Não há muito o que questionar acerca da última Premier League. Declarado campeão ainda na trigésima quinta rodada do certame, o Manchester City sobrou. No final do campeonato, o City abriu doze pontos sobre o rival United, foram oitenta e seis pontos contra setenta e quatro. Um passeio.
Vinte e sete vitórias, cinco empates e seis derrotas, demonstram a superioridade do time treinado por Josep Guardiola. Oitenta e três gols marcados e apenas trinta e dois sofridos, refletem a harmonia entre os setores do campo; uma defesa compacta, um meio de campo sólido e criativo e um ataque mortal. Guardiola, por sinal, prima por uma busca incessante deste equilíbrio. Os treinos sempre são em terreno reduzido, dando aos jogadores uma percepção espacial muito mais apurada.
A primeira liga de futebol inglesa assistiu na última rodada a um confronto potencialmente respeitoso. O Manchester City foi a campo com a sua formação principal e impôs um clássico cinco a zero sobre o Everton, time que terminou o campeonato na décima posição. Mais uma vez, comprometimento, profissionalismo, e equilíbrio foram as grandes qualidades da equipe.
Em linhas gerais, compreender a robustez do Manchester City, passa por aceitar a tese de que um time se harmoniza na otimização de valores individuais voltados para o grupo. A tese vira uma receita, uma prática constantemente enriquecida pelo treinamento. Assim, a rapidez de um ala que suba ao ataque deve ser suprida pela atenção de uma peça que o cubra.
Um time que tem meias como Kevin de Bruyne e Phil Foden tendem a romper as linhas adversárias com muita facilidade, mas para tanto, necessitam que os alas subam com muita precisão e que os atacantes estejam sempre prontos a atuarem como pivôs. Prova disso é a ausência de seus atacantes entre os principais goleadores do certame, e vejam só, por lá atuam Gabriel Jesus e Sergio Agüero Gündogan, principal artilheiro da equipe, marcou treze vezes, figurando em nono lugar. Em contrapartida, esteve sempre presente ora como pivô, ora levando a marcação consigo enquanto os meias penetravam pela zaga.
Na defesa, a começar pelo goleiro Ederson, convocado sucessivamente para a seleção e eleito o melhor goleiro da Premier League, nomes como John Stones, Aké, Yan Couto, Laporte e Rúben Dias, perfizeram um campeonato praticamente perfeito. Além de pouco vazados, foram trinta e dois gols apenas, os defensores do City saem jogando com muita habilidade. As jogadas, na verdade, começam a ser tramadas justamente na saída de bola. Conduzida com maestria até que servida aos meias ou diretamente aberta para os alas, resulta que os meias são poupados de voltarem com frequência para buscarem o jogo. Isso foi observável durante todo o certame, mesmo que a equipe estivesse muita alterada. O nome disso? Padrão de jogo.
No último confronto, a posse de bola do City chegou a 75%, justamente em razão de um toque de bola primoroso que envolve o adversário e, invariavelmente, confunde a marcação. Esta peleja seria a vigésima sétima vitória do time treinado por Guardiola.
Naquele 23 de maio de 2021, Agüero assinalou dois tentos e se despediu do City em grande estilo, Foden, Jesus e De Bruyne também fizeram os seus. Foi um jogo à moda do Manchester City. Jogando fácil, sempre priorizando a posse de bola, marcou logo aos onze minutos com Kevin De Bruyne que desceu pela esquerda abrindo para o meio e finalizando de fora da área com extrema precisão. Não demorou muito, três minutos exatamente, para que Gabriel Jesus deixasse o dele de maneira muito tranquila. Em uma jogada que começou pelo meio, Jesus recebeu dentro da área, fintou o zagueiro e fulminou.
O Everton tentou acertar a marcação e até conseguiu pelo resto do primeiro, e ainda foi ao ataque conseguindo um pênalti que o brasileiro Ederson defendeu. Bastaram oito minutos de um segundo tempo que começou a mil, para Phil Foden assinalar o seu gol numa rápida troca de passes dentro da área, em uma nova jogada pelo meio. Depois disso, o Manchester City deu aparências de quem estava satisfeito, mas Agüero, que começou no banco de reservas, estava com muita vontade de despedir-se com todas as honras e, pouco depois de entrar, disse a que veio e guardou seus dois gols, aos 71 e aos 76 minutos. O primeiro foi numa roubada de bola, Agüero recebeu já dentro da área e num toque sútil deixou o goleiro paralisado, Seu segundo gol foi de cabeça, recebendo passe na marca de pênalti vindo da direita.
A última partida do City na Premier League 2020/2021, foi emblemática e traduziu toda a sua performance durante o certame. Harmonia, equilíbrio, jogo de equipe, variações táticas, enfim uma demonstração de conjunto poucas vezes vista no futebol.